1. A GRANDE APOSTASIA E A GRANDE TRIBULAÇÃO.
Estas duas podem ser
mencionadas juntas, porque estão entrelaçadas no discurso escatológico de Jesus,
Mt 24.9-12, 21-24; Mc 13.9- 22; Lc 21.22-24. As palavras de Jesus
indubitavelmente encontraram cumprimento parcial nos dias que precederam a
destruição de Jerusalém, mas é evidente que terão cumprimento maior no futuro,
numa tribulação que sobrepujará tudo quanto já foi experimentado, Mt 24.21; Mc
13.19.
Paulo também fala da
grande apostasia em 2 Ts 2.3; 1 Tm 4.1; 2 Tm 3.1-5. Ele já via algo desse espírito
de apostasia em seus próprios dias, mas se vê claramente que ele quer calcar em
seus leitores que essa apostasia assumirá proporções muito maiores nos últimos
dias.
Considera-se a grande
tribulação como precursora da vinda de Jesus (paousia).
Jesus, por certo,
menciona a grande tribulação como um dos sinais da Sua vinda e do fim do mundo,
Mt 24.3. É dessa vinda (parousia) que Ele está falando através de todo
esse capítulo, como se pode ver pelo emprego repetido da palavra paurosia,
versículos 3,37, 39. É simplesmente razoável supor que Ele está falando da
mesma vinda no versículo 29, vinda que se seguirá imediatamente à tribulação.
Essa tribulação afetará os eleitos também: correrão perigo de extraviar-se, Mt
24.24; por amor deles esses dias serão abreviados, versículo 22; serão reunidos
dos quatro cantos do mundo por ocasião da vinda do Filho do homem, vers. 31; e
serão encorajados a erguer as cabeças quando virem acontecer essas coisas,
visto estar próxima a sua redenção, Lc 21.28.
2. A FUTURA REVELAÇÃO DO ANTICRISTO.
O termo antichristos
só se encontra nas epístolas de João, a saber, em 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo
7. No que se refere à forma da palavra, ela pode descrever (a) alguém que toma
o lugar de Cristo, neste caso, “anti” é entendido no sentido de “em lugar de”;
ou (b) alguém que, embora assumindo a aparência de Cristo, opõe-se a Ele; neste
caso, “anti” é empregado no sentido de “contra”. Este último está em maior
harmonia com o contexto em que ocorre a palavra. Pelo fato de João empregar o
singular em 2.18 sem artigo, fica evidente que o termo “anticristo” já era
considerado um nome técnico. É incerto se, ao usar o singular, João tinha em
mente um Anticristo superior ou supremo, do qual os outros a que se refere eram
apenas precursores, ou se simplesmente quis personificar o princípio
incorporado em diversos anticristos, o princípio do mal militando contra o reino
de Deus. É evidente que o anticristo representa um certo princípio, 1 Jo 4.3.
Se tivermos isto em mente, perceberemos que, embora João tenha sido o primeiro
a empregar o termo “anticristo”, o princípio ou espírito indicado por esse
termo é claramente mencionado em escritos anteriores. Assim como há na
Escritura um desenvolvimento claramente assinalado no delineamento de Cristo e
do reino de Deus, também há uma revelação progressiva do anticristo. As
representações diferem, mas vão se tornando cada vez mais definidas, conforme
avança a revelação de Deus.
3. SINAIS E PRODÍGIOS. A Bíblia fala de vários sinais que
precederão o fim do mundo e a vinda de Cristo. Ela menciona (a) guerras e
rumores de guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, coisas descritas
como o princípio das dores de parto, sendo que o parto é, por assim dizer, o
renascimento do universo por ocasião da vinda de Cristo; (b) a vinda de falsos
profetas, que levarão muitos a desviar-se, e de falsos Cristos, que exibirão
grandes sinais e prodígios para desencaminhar, se possível, até os eleitos; e
(c) terríveis portentos nos céus, envolvendo o sol, a lua e as estrelas, quando
os poderes dos céus serão abalados, Mt 24.29, 30; Mc 13.24, 25; Lc 21.25,26.
Dado que alguns desses sinais são tais que ocorrem repetidamente na ordem
natural dos acontecimentos, surge naturalmente a questão sobre como poderão ser
reconhecidos como sinais especiais do fim. Geralmente se chama a atenção para o
fato de que eles serão diferentes das ocorrências anteriores em intensidade e
extensão. Mas, por certo, isso não satisfaz inteiramente porque os que vêem
esses sinais nunca poderão saber, se não houver outras indicações, se aos
sinais que estão testemunhando não se seguirão outros sinais parecidos, de ainda
maior extensão e intensidade. Portanto, deve-se chamar a atenção para o fato de
que, ao se aproximar o fim, haverá uma extraordinária conjunção de todos esses
sinais, e de que as ocorrências naturais serão acompanhadas por fenômenos sobrenaturais,
Lc 21.25,26. Disse Jesus: “quando virdes todas estas cousas, sabei que está
próximo, às portas”. Mt 24.33.
4. O MODO DA SEGUNDA VINDA.
Os seguintes pontos
merecem ênfase aqui:
4.1. Será uma vinda pessoal.
Isto se deduz da
afirmação feita pelos anjos aos discípulos no Monte da Ascensão: “Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir”, At
1.11. A pessoa de Jesus os estava deixando, e a pessoa de Jesus voltaria. No sistema
do modernismo dos dias atuais não há
lugar para um retorno pessoal de Jesus Cristo.
Douglas Clyde
Macintosh vê o regresso de Cristo no “progressivo domínio sobre os indivíduos e
sobre a sociedade exercido pelos princípios morais e religiosos do cristianismo,
isto é, pelo Espírito de Cristo”.1 William Newton Clarke diz “Não se deve esperar
nenhum retorno visível de Cristo à terra, mas, sim, o longo e constante
progresso do Seu reino espiritual. ... Se nosso Senhor tão somente completar a
vinda espiritual que iniciou, não haverá necessidade de um advento visível para
tornar perfeita a Sua glória na terra”.2 Segundo William Adams Brown, “Não mediante
uma catástrofe abrupta, poderá ser, como na esperança cristã primitiva, mas
pelo método mais lento e mais seguro da conquista espiritual, o ideal de Jesus
ainda obterá a aqui essência universal que Ele merece, e o Seu espírito dominará
o mundo. Esta é a verdade pela qual a doutrina do segundo advento permanece de
pé”.3 Walter Rauschenbusch e Sailer Mathews falam da segunda vinda em termos
similares. Estes e aqueles interpretam as vívidas descrições da segunda vinda
de Cristo como representações figuradas da idéia de que o espírito de Cristo
será uma crescente e penetrante influência na vida do mundo. Mas não se pode
negar que essas representações não fazem justiça às descrições que se acham em
passagens como At 1.11; 3.20, 21; Mt 24.44; 1 Co 15.22; Fp 3.20; Cl 3.4; 1 Ts
2.19; 3.13; 4.15-17; 2 Tm 4.8; Tt 2.13; Hb 9.28. Os próprios modernistas
admitem isso quando dizem que estas passagens representam o antigo modo judaico
de pensar. Eles têm uma nova e melhor luz sobre o assunto, mas é uma luz que se
obscurece cada vez mais, em vista dos acontecimentos mundiais dos presentes
dias.
4.2. Será uma vinda física.
Que a volta do Senhor
será física se deduz de passagens como At
1.11; 3.20, 21; Hb 9.28; Ap 1.7.
Jesus voltará corporalmente á terra. Há alguns que identificam a predita vinda
do Senhor com a Sua vinda espiritual no dia de Pentecoste, e entendem que a parousia
significa a presença espiritual do Senhor na igreja. Segundo a descrição que fazem, o Senhor voltou no Espírito Santo no dia
de Pentecoste, e agora está presente (daí parousia) na igreja. Dão
ênfase especial ao fato de que a palavra parousia significa presença. 4 Ora,
é mais que evidente que o Novo
Testamento fala de uma vinda espiritual de Cristo, Mt 16.28; Jo 14.18, 23;
Ap 3.20; mas esta vinda, quer à igreja no dia de Pentecoste, quer ao indivíduo
em sua renovação espiritual, Gl 116, não pode ser identificada com o que a
Bíblia apresenta como a segunda vinda de Cristo. É verdade que a palavra
parousia significa presença, mas o doutor Vos demonstrou acertadamente
que, em seu emprego religioso e escatológico, também significa chegada, e que no
Novo Testamento a idéia de chegada ocupa o primeiro plano. Além disso, devemos
ter em mente que existem outros termos no Novo Testamento que servem para
designar a segunda vinda, a saber, apokalypsis, epiphaneia e phanerosis, cada
um dos quais indica uma vinda que se pode ver. E, finalmente, não devemos
esquecer que as epístolas se referem repetidamente à segunda vinda como um
evento ainda futuro, Fp 3.20; 1 Ts 3.13; 4.15, 16; 2 Ts 1.7-10; Tt 2.13. isto não
se enquadra na idéia de que a vinda já é um evento do passado.
4.3. Será uma vinda visível.
Isto se relaciona
intimamente com o item anterior. Pode-se dizer que, se a vinda do Senhor será
física, também será visível.
Escritura não nos deixa em dúvida quanto à
visibilidade da volta do Senhor. Numerosas passagens a atestam, como Mt.24.30;
26.64; Mc 13.26; Lc 21.27; At 1.11; Cl 3.4; Tt 2.13; Hb 9.28; Ap 1.7.
4.4. Será uma vinda repentina.
Embora de um lado a
Bíblia ensine que a vinda do Senhor será precedida por diversos sinais, ensina,
de outro lado, que, de maneira igualmente enfática, a vinda será repentina,
será inesperada, tomando de surpresa o povo, Mt 24.37-44; 25.1-12; Mc 13.33-37;
1 Ts 5.2, 3; Ap 3.3; 16.15. Isto não é contraditório, pois os sinais preditos
não são de molde a designar o tempo exato. Os
profetas indicaram certos sinais que precederiam a primeira vinda de Cristo e,
contudo, Sua vinda tomou a muitos de surpresa. A maioria do povo não deu
atenção aos sinais, fossem estes quais fossem. A Bíblia dá a entender que a
medida da surpresa que haverá quando da vinda de Cristo será na razão inversa à
medida da vigilância das pessoas. e. Será uma vinda gloriosa e triunfal. A
segunda vinda de Cristo, conquanto pessoal, física e visível, será todavia
muito diferente da Sua primeira vinda. Ele não voltará no corpo da Sua humilhação,
mas num corpo glorificado e com vestes reais, Hb 9.28. As nuvens do céu serão
Sua carruagem, Mt 24.30, os anjos Seu corpo de guarda, 2 Ts 1.7, os arcanjos
Seus arautos, 1 Ts 4.16, e os santos de Deus serão o Seu glorioso séqüito, 1 Ts
3.13; 2 Ts 1.10. Ele virá como Rei dos reis e Senhor dos Senhores, triunfante
sobre todas as forças do mal, havendo posto todos os Seus inimigos debaixo dos
Seus pés, 1 Co 15.25; Ap 19.11-16.
5. O PROPÓSITO DA SEGUNDA VINDA.
Cristo voltará no fim
do mundo com o propósito de introduzir a era vindoura, o estado eterno de
coisas, e o fará inaugurando e completando
dois eventos formidáveis, quais sejam, a ressurreição dos mortos e o juízo
final, Mt 13.49, 50; 16.27; 24.3; 25.14-46; Lc 9.26; 19.15, 26, 27; Jo
5.25-29; At 17.31; Rm 2.3-16; 1 Co 4.5; 15.23; 2 Co 5.10; Fp 3.20, 21; 1 Ts
4.13-17; 2 Ts 1.7-10; 2.7, 8; 2 Tm 4.1, 8; 2 Pe 3.10-13; Jd 14, 15; Ap 20.11- 15;
22.12. Na descrição da Escritura, como já foi dado a ver no item anterior, o fim do mundo, o dia do Senhor, a
ressurreição física dos mortos e o juízo final coincidem. Esse grande ponto
decisivo trará também a destruição de todos os poderes malignos hostis ao reino
de Deus, 2 Ts 2.8; Ap 20.14. Pode-se duvidar disto, caso se leiam as passagens
pertinentes doutra maneira, se Ap 20.1-6 não tivesse sido estabelecido por
alguns como o padrão pelo qual todo o restante do Novo Testamento deve ser
interpretado.